Jogador que chutou a nuca de árbitro no Interior gaúcho é condenado por tentativa de homicídio
o jogador William Cavalheiro Ribeiro foi condenado a dois anos e oito meses de prisão em regime semiaberto
Submetido a julgamento nesta terça-feira (7) em Venâncio Aires (Vale do Rio Pardo), o jogador William Cavalheiro Ribeiro foi condenado a dois anos e oito meses de prisão em regime semiaberto, por tentativa de homicídio – ele chutou a nuca do árbitro de uma partida da Divisão de Acesso do Campeonato Gaúcho de futebol, em 2021. O réu pode recorrer em liberdade da sentença, que inclui indenização de R$ 18 mil à vítima por danos materiais.
A punição foi definida pelo juiz João Francisco Goulart Borges a partir do veredito dos sete jurados (quatro homens e três mulheres), que recusaram o agravante de motivo fútil.
Tanto o réu quanto a vítima, Rodrigo Crivellaro, estavam presentes no plenário durante toda a sessão e foram os únicos a prestar depoimento sobre o ataque, cometido no gramado do estádio Edmundo Feix, do Guarani de Venâncio Aires.
O agora ex-árbitro acrescentou ter ficado com uma cicatriz na boca por causa do soco que recebeu antes de cair e ser chutado na região cervical. “Depois disso, não lembro de nada, só sei o vi nas imagens. ‘Apaguei’ e lembro de acordar só no hospital”.
Como consequência da segunda agressão, ele sofreu lesão na sexta vértebra, fato que o obrigou a se afastar da atividade e a usar um colar cervical por 60 dias: “Os médicos me disseram que eu poderia ter ficado para sempre em uma cadeira de rodas”. Ele acabou abandonando o apito, após seis anos vinculado à Federação Gaúcha de Futebol (FGF), e atualmente trabalha como professor de padle.
Já o William Ribeiro negou que pretendesse matar Crivellaro. Ele disse que minutos antes do incidente havia recebido uma joelhada do goleiro adversário e, ao sofrer outra falta não marcada, questionou o árbitro e acabou advertido com cartão-amarelo, deflagrando a reação de fúria.
“Realmente agredi, foi errado, mas não foi tentativa de homicídio. Eu me arrependo bastante”, frisou o meia-atacante, afastado do futebol profissional devido a uma suspensão de dois anos. Em meio ao interrogatório, ele se voltou à plateia do fórum, onde estava o ex-árbitro, e pediu desculpas pelas agressões.
A acusação ficou a cargo do promotor Pedro Rui da Fontoura Porto, com a assistência do advogado Daniel Figueira Tonetto. Já a defesa foi realizada pelos advogados Ana Paula Cordeiro Krug, Fabio dos Santos Gonçalves e Luis Gustavo Bretana.
Relembre o caso
Na noite de 4 de outubro de 2021, aos 15 minutos do segundo tempo da partida entre o anfitrião Guarani de Venâncio Aires e o visitante São Paulo de Rio Grande no estádio Edmundo Feix, o meia-atacante William Ribeiro, então com 30 anos, foi advertido com cartão amarelo, por reclamação. Ele reagiu derrubando o árbitro com um soco e, em seguida, o chutou com violência na região da nuca.
O juiz Rodrigo Crivellaro, de 29 anos na época, desmaiou e foi levado de ambulância para o hospital local, onde foi constatada fissura na vértebra cervical. Mesmo fora de perigo, ele precisou utilizar colete especial durante várias semanas – o médico que o atendeu avaliou que a vítima poderia ter ficado paraplégica.
Na ocasião do ataque, William foi contido pelos colegas e preso em flagrante pela Brigada Militar (BM) e Polícia Civil. Acabou demitido por justa causa e beneficiado com liberada provisória no dia seguinte, levando-se em conta o fato de o acusado ser primário, com residência fixa e não demonstrar que poderia prejudicar o andamento do processo. Ele também se comprometeu a comparecer sempre que for chamado a depor.
Registrada por uma emissora de TV, as imagens repercutiram até mesmo fora do País e motivaram uma série de manifestações de repúdio por parte de atletas, dirigentes e, é claro, profissionais do apito. Já a partida foi interrompida quando estava 1 a 0 para o Guarani e retomada na semana seguinte, sem alteração no placar.